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Construção da Ponte Salvador-Itaparica ameaça mais de 120 terreiros na Baía de Todos-os-Santos

Obra prevista para começar em até 12 meses preocupa comunidades de terreiro

  • Foto do(a) author(a) Yan Inácio
  • Yan Inácio

Publicado em 12 de junho de 2025 às 05:45

Público assiste à audiência
Público assiste à audiência que discutiu impactos da obra no Ministério Público Federal (MPF), nesta quarta-feira (11)  Crédito: Marina Silva/CORREIO

Com extensão de 12,4 km sobre o mar da Baía de Todos-os-Santos e previsão para começar em pelo menos 12 meses, a obra da ponte Salvador-Itaparica pode gerar impactos ambientais e ameaçar os ritos religiosos de comunidades tradicionais do entorno.

Os terreiros, locais sagrados dos adeptos do candomblé, estão em alerta para a construção do empreendimento. “São 126 terreiros que estão na área de traçado da ponte e nem sequer estão sabendo que serão impactados”, denunciou uma representante da Coalizão de Defesa do Território Sagrado da Ilha de Itaparica, que não quis ser identificada por medo de represálias. A fala foi feita durante uma audiência pública no Ministério Público Federal da Bahia (MPF-BA), nesta quarta-feira (11), para discutir os impactos da obra na região.

Segundo ela, os povos de terreiro não foram devidamente comunicados sobre a construção da ponte. “A gente percebe que não houve cuidado com essa comunidade, não houve consulta prévia. E existe um processo de silenciamento total com essas comunidades”. A representante também destacou a importância do território para as práticas sagradas da religião de matriz africana.

“Quando se implantam os espaços sagrados naquele território, não tem como você retirar esse terreiro e colocar em outro lugar. Tudo que a gente faz tem vida. E a vida é um campo que gira em torno de força, de axé, e existe uma conexão ao redor do território. Então essa adaptação não existe. O que a gente tem é que pensar em uma forma de desenvolver, mas de forma sustentável”

Representante

Coalizão de Defesa do Território Sagrado da Ilha de Itaparica

Além dos impactos ambientais, a especulação imobiliária também é um ponto destacado pela representante dos candomblés da ilha. Para se ter uma ideia, corretores ouvidos pelo CORREIO em janeiro deste ano estimam que o setor imobiliário tem notado uma valorização em propriedades na região que chega a 20%. O corretor Karim Harfush, que atua na Ilha, explica que um dos fatores que explicam a elevação do preço é a construção da ponte.

“Só a possibilidade de ela existir e de facilitar o o à ilha já faz com que muita gente queira garantir os pedaços de terra lá, antes que os preços fiquem ainda mais altos. Isso gera um movimento de bastante especulação imobiliária, no qual os investidores compram os imóveis para revender depois, com lucro, seja terrenos, casas ou até mesmo alguns empreendimentos que surgem no local”, detalhou Karim.

“Há especulações dentro do próprio território. E nisso, os espaços que são utilizados pelas comunidades tradicionais também ficam em evidência. Porque os nossos espaços, eles não se resumem apenas onde está implantado o terreiro, a gente utiliza outros espaços”, comenta a representante. Como exemplo, ela cita a demolição do assentamento de Èsù Lálù em 2021. “Foi quando um cidadão, por conta dessas especulações, chega no espaço e mostra um documento dizendo que o território era dele e coloca a casa de Èsù Lálù abaixo”, relembra.

De acordo com ela, as tentativas de loteamento também ocorrem no terreiro onde ela cultua seus orixás atualmente. "O que a gente percebe é uma fragilidade em relação aos nossos territórios, em relação à fragilidade na questão fundiária mesmo. A gente sabe que a ilha não tem escrituras. De uns tempos para cá é que vem aparecendo essas pessoas com documentos em mãos e dizendo que aquele documento é legalizado, e a gente não sabe o que é”, conclui.

Rafael Tamandaré fala durante audiência por Marina Silva/CORREIO

Questionada se levou em consideração os mais de 120 terreiros na área em que será construída a ponte e se consultou as comunidades de terreiros, a Secretaria de Infraestrutura da Bahia (Seinfra) disse estar atenta ao diálogo com as comunidades tradicionais, que, segundo o órgão, fornecerão subsídios para realização de futuras ações direcionadas a essa comunidade. “Além disso, estão sendo feitos os acompanhamentos através dos órgãos de controle do estado sobre a Concessionária Ponte Salvador – Itaparica, para que as ações de mitigação e compensação socioambiental sejam cumpridas.”

“Ainda durante as etapas de estruturação do projeto foram realizadas audiências públicas com a população da Ilha de Itaparica, especialmente durante o Estudo de Impacto Ambiental. Além disso, antes da publicação do edital da licitação em 2019 foram realizadas novas consultas públicas. Em 2021, já depois da do Contrato de Concessão, foram realizados múltiplos encontros e oficinas com as comunidades tradicionais durante a elaboração do Mapa Êmico”, informou a nota.

Já a Concessionária Ponte Salvador-Itaparica (SI) reafirmou a disponibilidade para dialogar e ouvir as comunidades da área de influência do projeto. “A SI reforça que as propostas das comunidades ainda poderão ser incorporadas ao projeto. A implantação desse novo sistema rodoviário, do qual faz parte a Ponte Salvador-Itaparica, será realizada com total transparência, respeito aos direitos coletivos e comprometimento com o desenvolvimento sustentável”, declarou.